segunda-feira, 24 de maio de 2010

RISCO: obstáculos nas ruas e calçadas impedem a independência de locomoção dos deficientes visuais


DEFICIENTES VISUAIS ENFRENTAM DIFICULDADES PARA SE LOCOMOVER COM SEGURANÇA POR CAUSA DAS BARREIRAS NAS CALÇADAS

Vasos, material de construção, buracos, bicicletas, toldos, galhos de árvores, placas de propaganda. Essas são algumas das barreiras encontradas nas calçadas da região Central de Rio Claro, que tornam impossível a locomoção independente e segura dos portadores de deficiência visual. Quem enxerga não consegue compreender a dimensão do problema. Uma pequena barreira para quem vê pode se tornar um obstáculo intransponível para o cego.
A reportagem pôde sentir um pouco dessa dificuldade de perto. No início da tarde da última quinta-feira (20), acompanhamos a jovem Daiane Cristina dos Santos, deficiente visual, em uma volta pelas ruas do Centro. Ela está recebendo instrução de locomoção no CMAC (Centro Municipal de Atendimento à Pessoa Deficiente Visual).
Porém, a independência aprendida nas aulas não pode ser posta em prática porque Rio Claro não é uma cidade segura para o deficiente visual. Quem afirma é a terapeuta ocupacional, Regina Gaino Bortolin, que administra o Centro. Segundo ela, mesmo com o auxílio da bengala fica difícil para o cego caminhar sozinho pela rua. Isso porque, além das barreiras sobre as calçadas, os motoristas, principalmente motociclistas e condutores de bicicletas, não respeitam as leis de trânsito.
Com o auxílio da bengala, Daiane percorreu lentamente as ruas do Centro. A vagarosidade dos passos visa evitar acidentes devido aos obstáculos existentes. A reportagem e Regina à acompanharam de longe para observar o seu progresso. O que se nota é que o deficiente visual muitas vezes é invisível.
As pessoas passam e não veem, não oferecem ajuda para atravessar a rua, por exemplo. Ficamos um tempo paradas no cruzamento da Rua 3 com a Avenida 5 até que um bom samaritano se dispôs à auxiliá-la a chegar do outro lado. Ela agradeceu e seguiu em frente. O mesmo aconteceu em outros dois cruzamentos.
Regina explica que para melhor locomoção do cego, o indicado é a pessoa oferecer o braço e não o contrário. Dessa forma, o deficiente visual segura no braço do ajudante para caminhar. A própria Daiane, assim como seus colegas no centro, tem orientado as pessoas nesse sentido.
Bicicletas mal estacionadas na calçada também são um perigo. Quando a bengala percebe, a pessoa já está em cima do objeto e quando isso não acontece, o tombo é inevitável. Durante nossa caminhada, várias bicicletas foram encontradas em cima da calçada. Vasos, placas de propaganda, orelhões, sacos de lixo e árvores também são um grande risco.
Além da bengala, a orientação de Daiane é feita pelas paredes. Quando elas não existem, nas entradas de estacionamento por exemplo, fica difícil se orientar. Nesse caso, a percepção fica por conta do piso que é mais rebaixado. Por isso, a importância de ter calçadas regulares e em perfeitas condições.
Muitas vezes, as pessoas também são obstáculos. Segundo Regina, elas sentam nas muretas ou ficam paradas na calçada provocando colisões. Muitas não saem do lugar quando o cego se aproxima. Outras ficam observando o deficiente visual como se ele fosse uma espécie rara.
"As pessoas não saem do caminho", comenta Daiane lembrando que se não fossem essas barreiras ela poderia se locomover perfeitamente sozinha.
O treinamento no CMAC não se restringe apenas à locomoção. O deficiente visual aprende de tudo um pouco para ter uma vida independente nas 18 oficinas oferecidas pelo centro.
Daiane deu mais um passo no sentido de aumentar sua independência. Ela passou no concurso para telefonista realizado pela Fundação Municipal de Saúde e aguarda para breve a convocação para assumir a sua vaga. Como toda pessoa diante de um novo emprego, ela está muito ansiosa, mas também confiante de que pode e irá realizar um bom trabalho.

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