segunda-feira, 7 de junho de 2010

Portugal - Dez mil surdos sem acompanhamento

O défice de docentes habilitados para interagirem com os cidadãos portugueses com Necessidades Educativas Especiais (NEE) deixa dez mil surdos portugueses sem o devido acompanhamento escolar, por não terem Professores que “gestualizem” com eles, revela o Departamento de Ciências da Educação e do Património (DCEP) da Universidade Portucalense (UPT).

Segundo António Vieira, docente do DCEP, apesar do reconhecimento oficial, em 1997, da língua gestual portuguesa como língua materna da comunidade surda, sendo a segunda língua oficial do país, o Governo demitiu-se das suas responsabilidades no que respeita à formação de Professores para alunos surdos, o que resulta numa grave discriminação social para quem sofre desta deficiência.

“Para um surdo a língua gestual portuguesa é a sua língua materna, mas se na escola, nos diferentes graus de ensino, o Professor não tem competências para comunicar com ele, então, ao nível da formação do indivíduo, o Governo distingue entre portugueses de primeira e portugueses de segunda categoria”, contesta.

Recordando que cerca de 98% dos cidadãos surdos são filhos de pais ouvintes, o especialista em Educação Especial e autor do Gestuário de língua gestual portuguesa (1991) lamenta ainda que estes não tenham direito a qualquer apoio público para desenvolverem competências que lhes permitam comunicar na língua dos filhos.

“O Estado deveria ter preocupações visíveis com uma questão que diz respeito à dignidade humana e desempenhar um papel mais activo no sentido de dotar quer a Escola, quer os cidadãos, com os instrumentos necessários para que se possa construir um ensino e uma sociedade verdadeiramente inclusiva”, reforça.

Embora a falta de formação adequada aos Professores de Educação Especial afecte todos os alunos com NEE, a surdez levanta barreiras que nem as novas tecnologias aplicadas ao ensino conseguem contornar.

“Há hardware e software desenvolvidos especificamente para pessoas com deficiências mentais e também para cegos, mas no caso dos surdos as tecnologias não representam qualquer mais-valia comuicacional, o que reforça ainda mais o isolamento em que vivem e a necessidade de melhor formar os futuros docentes da área, para que possam estabelecer uma verdadeira comunicação com eles”, conclui.

Com estas preocupações como pano de fundo, a UPT, em parceria com a Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, promove, dia 7 de Junho, às 17h30, no Auditório 201 da UPT, duas Conferências, integradas no Ciclo Luso-Espanhol, sobre Educação Inclusiva.

A primeira Conferência, subordinada ao tema “A Inclusão e o Pensar as Diferenças”, será proferida por António Magalhães, docente da Universidade do Porto, enquanto que a segunda, sob o tema “Redes Educativas locales: la educación inclusiva”, contará com o discurso de Angeles Parrilla, docente da Universidade de Sevilha.

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