quarta-feira, 27 de abril de 2011

IRACEMA FOI À CASA DA MÃE JOANINHA

Na Capital Alencarina, uma guerreira de lábios de mel e coração vibrante, não suportando mais viver na ficção ou permanecer estática, monumentalmente, enquanto turistas e admiradores se movem ao seu redor, disparando olhares e flashes para fotografar com retinas ou cliques eletrônicos, a imagem e a simbologia de uma mulher valente e apaixonada, que amou sua terra e seu povo, resolveu criar vida própria e sair da Lenda para a contenda.

Mas Iracema precisará de um outro escritor, para ganhar vida e sair das páginas da Fábula romântica de Alencar. Então, faço eu este papel e começo a oxigenar o concreto, o bronze, o alumínio, o aço, a pedra-sabão, a resina ou qualquer outro material que tenha aprisionado a bela índia em atrações turísticas espalhadas pela Loira desposada do Sol e torno possível a aparição de Iracema em outras plagas urbanas.

Iracema ganha movimentos, pulsação, transpiração. De suas narinas, agora sai e entra o ar marinho de sua praia, de onde partirá pelo calçadão rumo à casa da Mãe Joaninha, passeando pela Fortaleza outrora bela, que ao que parece, içou sua vela e sumiu no horizonte do Mucuripe;
"As velas do Mucuripe vão sair para pescar, vão buscar nas águas fundas do mar, a beleza da Fortaleza antiga, irmã do sol e do mar", assim, certamente, escreveria o poeta nos dias de hoje.

Entre garotas de programa, negócios escusos, turistas sexuais e mendigos da tão propalada hospitalidade cearense, Iracema desfila imponente pela orla, sem apadrinhamento político, sem conhecer nenhuma Luiziane ou Dilma que esteja no poder, sem precisar estampar nenhuma marca ou grife e muito menos, sem depender de marketeiros ou FUNAIS para construir ou defender sua imagem. Lá vai ela; "Olha que coisa mais linda, mais cheia de raça, é ela indígena, guerreira que passa, com seus doces lábios, a caminho do Palácio do Bispo", quer falar com a prefeita, trocar umas ideias com a "Garota de cinema", aquela que anda aparecendo nas telas, mostrando uma cidade de ficção, assim como o ambiente literário de onde saiu nossa Iracema. Garota de Iracema frente à frente com a Garota de Cinema. Duas mulheres com personalidades fortes, uma da tribo da inspiração, a outra da tribo da improvisação. Somente um poeta para imaginar tão inusitada cena.

A índia e a prefeita, olhos nos olhos, mãos nas mãos, ambas desnudas por suas verdades. No cenário de fundo, uma Fortaleza entristecida, sem luz, sem romantismo, invadida por especulações, farsas, necessitando de artistas de fora para tentar se alegrar inebriadamente, enfim, uma cidade sem brilho e sem motivos inspiradores para poetas e novos romancistas.
Paulo Roberto Cândido

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