segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Setenta anos


Quem chega no Mercado Central de Fortaleza, logo na entrada é recebido por dois músicos cegos cantando as mais alegres canções nordestinas.

Waldeci, na sanfona, arrasando; e Vanda encantando com sua maviosa e delicada voz. Um terceiro, o Francisco, no zabumba, e está formado o trio; que, como se diz na terrinha, por ser bom demais, já inté aparece na televisão.

Os dois artistas cegos, com desenvoltura e muita disposição, tocam e cantam sem parar! Dão uma aula de superação, pedindo, apenas, que adquiram o seu CD. Ganham, pois, honestamente, o pão de cada dia.

Os dois artistas cegos do Mercado Central de Fortaleza, no seu modesto show de rua, divertem à beça e são aplaudidos repetidamente. De repente também por aqueles que enxergam e não fazem nada de bom e bonito.

Assim é o Waldeci; assim é a Vanda.

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Não faz muito tempo, escrevi, aqui no meu site, sobre os cegos do Ceará, minha terra. Título da minha crônica: Com os que não veem.

Naquela oportunidade, falei exaustivamente sobre uma Instituição modelar que dá total e exemplar assistência aos deficientes visuais cearenses, sem qualquer distinção de classe, cor, e poder econômico. Significa que cuida dos olhos e da visão do engravatado e do descamisado; do preto e do branco; do pobre e do rico. E de graça.

É a Sociedade de Assistência aos Cegos, que no próximo dia 19 estará comemorando 70 anos de fundada.

Trata-se de uma "sociedade civil sem fins lucrativos, que atua nas áreas de educação, saúde, profissionalização e inserção social do deficiente visual".

Cuida de todas essas áreas com a dignidade com a qual trabalharam os seus fundadores. Ao criá-la, eles tiveram um só objetivo: servir ao próximo, mormente os menos favorecidos; os mais necessitados.

Tem uma história gloriosa, feita, segundo sua Presidente, a Senhora Maria Josélia Sá e Almeida, "de inúmeros atos de amor, caridade, coragem e acima de tudo, da crença de que todos os seres humanos foram criados por Deus, não importando sua cor, raça, credo ou limitações."

Passando por Fortaleza, e guiado pela sua Presidente, conheci, como mostrei em Com os que não veem, a SAC na sua intimidade. Deixando lá, oficialmente, algumas crônicas minhas em Braille.

E aqui revelo uma coisa que não disse antes: de lá saí sensibilizado com o sorriso dos cegos com os quais conversei, e foram dezenas. O sorriso de cada um expressava, com certeza, a satisfação com o tratamento que recebem da Sociedade de Assistência aos Cegos.

Poupando alguns do constrangimento de terem que, nas praças públicas ou nas portas das igrejas, saírem pedindo "uma esmolinha pelo amor de Deus", pires à mão.

*** ***

Esta crônica, diria uma extensão de Com os que não veem, rabisquei-a para parabenizar a SAC, na pessoa de Josélia Almeida e de seus auxiliares, diretos e indiretos. Todos, sem exceção.

Para fazê-lo, pedi a ajuda do Luís da Câmara Cascudo, tantas vezes por mim solicitado e visitado, nesta minha mania de escrever sobre tudo e sobre todos.

Vejam esta eloquente quadrinha recolhida no Ceará, segundo Câmara Cascudo, pelo folclorista Leonardo Mota, o saudoso Leota:

"Quem nasceu cego da vista

E dela não se lucrou,

Não sente tanto ser cego

Como quem viu e cegou."

Com a inocência desses versos, a homenagem de um cearense à Sociedade setentona, tão ativa e vigorosa como no dia que nasceu: 19 de setembro de 1942.

Felipe Jucá






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