quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tecnologia ajuda deficientes visuais

Diário de S. Paulo




Saiba como deficientes visuais a vencerem as dificuldades do dia a dia com ajuda da revolução tecnológica
Micheli Nunes

Lucas Radaelli, de 20 anos, é estudante de ciências da computação e faz estágio na Universidade Federal do Paraná. Muito ativo na internet, tem perfis no YouTube, Twitter e Facebook, em que posta vídeos, fotos e informações sobre seu cotidiano. A única diferença entre ele e a maioria dos seus amigos é o fato de ser deficiente visual. Por motivos ainda desconhecidos, Lucas nasceu cego do olho esquerdo e, aos quatro anos, teve um descolamento de retina no outro olho, perdendo completamente a visão. Hoje, com a ajuda de smartphones e afins, consegue levar uma vida sem tantas restrições. Aqui, ele conta como a tecnologia está mudando a vida dos cegos de 20 e poucos anos conectada com o mundo digital.

DIÁRIO_ Como foi a sua educação e quais foram as maiores dificuldades neste período?

LUCAS RADAELLI_ Sempre estudei em escolas normais. Meus pais me deram um notebook na quarta série e eu conciliava os estudos com materiais digitais com os em braille. Meus pais ainda escaneavam todos os livros e faziam adaptações para que eu pudesse entender totalmente o conteúdo. Por exemplo, se havia uma imagem no meio do livro, eles a descreviam. Mas o processo de escanear os materiais para que eu os tivesse em formato digital não era rápido, demorava muito. Acredito que essa foi uma das maiores dificuldades.

Quais são os principais benefícios da tecnologia na sua vida hoje?
Existe uma frase que diz: “A tecnologia torna as coisas mais fáceis para as pessoas. Para as pessoas com deficiência, torna as coisas possíveis”. Eu realmente gosto desta frase porque ela resume bem o que é a tecnologia para mim hoje. Os cegos usam o computador com a ajuda de um programa chamado leitor de telas. Com comandos no teclado (nunca usamos o mouse), navegamos nas opções disponíveis. Cada comando dado tem uma resposta em áudio do leitor de telas, que lê o texto selecionado, o item de menu e por aí vai. Como disse, uso um notebook para estudar desde a quarta série. Agora, com o iPhone, tenho a ajuda da tecnologia em qualquer lugar. Por exemplo, quando chego em um restaurante e não tem cardápio em braille, vejo as dicas que as pessoas deixaram no aplicativo da rede social 4Square e escolho meu prato.

Os cegos são unidos na internet. Você faz parte disso?
Sim, há muitas comunidades. Eu tenho um site (www.acessibilidadeapple.com), em que posto coisas relacionadas ao mundo Apple e à acessibilidade. Sem falar nas várias listas de discussão das quais participo, tanto brasileiras quanto internacionais. Esse contato com as pessoas faz as informações circularem mais rápido, o que também ajuda muito.

Antes das novas cédulas de real com tamanhos diferenciados, como você lidava com o dinheiro?
Era complicado. Antes de sair de casa, sempre organizava as notas na minha carteira em uma certa ordem. Ao receber um troco, perguntava quais eram as notas que havia recebido e guardava na mesma ordem. Incrivelmente, nunca fui enganado.

Como é pegar ônibus e andar nas ruas hoje?
Os ônibus em Curitiba, onde moro, anunciam qual será o próximo ponto em que vão parar. Quando me mudei para cá, notei que isso era uma coisa mais do que incrível. Deveria ser assim em todos os outros lugares. Semáforos sonoros, para sabermos a hora correta de atravessar a rua, seria outro avanço grande. E também uma melhor manutenção das calçadas, com maior fiscalização, a fim de que sejam respeitadas as normas de segurança.
Você sempre conta no Twitter que algumas pessoas ficam chocadas com o fato de você ir ao cinema, mandar SMS, assistir à televisão...
Acredito que as pessoas têm esse tipo de pensamento porque imaginam que, se fossem cegas, não conseguiriam realizar algumas atividades. Isso acontece porque elas não conhecem as tecnologias que existem para ajudar os deficientes visuais e porque não tiveram um tempo de adaptação. O fato é que, para a maioria, à primeira vista, as habilidades que eu tenho são grandes coisas, mas, depois que conhecem o meu mundo um pouco melhor, acabam percebendo que são as mesmas habilidades que outra pessoa com 20 anos por aí pode ter. Gosto de contar para os outros sobre o cotidiano na perspectiva das pessoas cegas. Ajuda a desmistificar o nosso mundo e também a mostrar como ele está mais próximo da vida das outras pessoas do que se imagina.
Fonte: Rede Saci

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita! Volte sempre!
Deixe aqui seu comentário ou entre em contato conosco pelo e-mail: sacescola@gmail.com