quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O BLOCO DOS SUJOS NÃO PASSOU


     O Carnaval passou, a fantasia voltará a ficar quieta e as baterias descansarão silenciosas nos barracões. Quantos olhos viram as alegorias? Quantas mãos acompanharam os sambas? Quantas vozes repetiram os refrãos hipnotizadores? Quantas pernas, joelhos e tornozelos ainda conseguem iratrás dos Trios? Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu para a folia desmedida e ilusória. É um pensamento de folião consciente em quarta-feira de cinzas. Quantos ainda estão lúcidos para compreenderem isso? Quem usou máscaras o que pretendia dizer? Quem não usou muita roupa o que pretendia mostrar? Quem participou da turma do funil de que pretendia se inebriar? Enfim, o que quiseram de verdade nestes dias de carnaval? Extravasar alegria ou fantasiar a melancolia? Talvez seja preferível ser um súdito de Momo, a ser regido pelos Reis da corrupção.

     Quanto riso, quanta alegria, mais de 190 milhões de palhaços nos porões, sem darem conta do que se faz nas cortes e nos salões. Reis sábios não querem que o povo veja o sol, por isso, enchem os porões com sabores inebriantes e melodias magnetizantes. Alguém viu o bloco dos coerentes passar? Alguém explicou o sentido dos enredos da vida? Quem irá agora descompassar os corações que ficaram quatro dias no compasso de uma única alegria? O surdo na marcação do esquecimento, o tamborim na batida do dissolvimento, as caixas no ritmo do confinamento; Corações foliões esquecidos da realidade, razões dissolvidas em alas, esperanças confinadas sem a harmonia da evolução.

     Lá vem a bateria da mocidade inconsequente, não existe mais indiferente, não existe mais indiferente.
Não pensem que eu não goste de carnaval, o que faço é pular com as vibrações do que eu acredito, beber sem que a ressaca faça folia no dia seguinte, me fantasiar sem que a minha identidade se torne uma ilusão,
acompanhar as músicas da temporada sem desfazer o meu acervo cultural construído pelas belas composições do passado. Brinco com a alma carregando o estandarte da Paz e as retinas observando as cenas da unidade, destas que colocam ricos e pobres, brancos e negros, homens, mulheres, crianças e idosos na Escola de Samba Unidos da Felicidade sem fronteiras. Como é bom enxergar o DNA da igualdade desfilando pelas praças e ruas de um País bonito por natureza e rico por insistência.

     Quanto pilantra, quanta raposa, mais de 300 picaretas roubando sem precisar usar máscaras negras; São os Acadêmicos das Alianças sem Pudor. Mas cada Escola que passa, cada Trio que toca faz o povo querer Carnaval o ano inteiro, assim, ninguém terá tempo para discutir o que se faz por debaixo dos panos e dos pratos, aqueles que o arquiteto desenhou para o nosso Congresso.

     O Carnaval passou, o mensalão passou, o bloco dos sujos não passou, continua feliz concentrado na apoteose do poder, escrevendo o enredo das cinzas, que cairão como confetes nas cabeças tontas dos loucos por paredões de sons e caminhões repetidores da mesma melodia, que nem percebem que a alegria verdadeira não precisa de Carnaval para botar o seu bloco na rua.

Paulo Roberto Cândido





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita! Volte sempre!
Deixe aqui seu comentário ou entre em contato conosco pelo e-mail: sacescola@gmail.com